Professor Vern L. Bengtson, 72, da Universidade do Sul da Califórnia (USC), é filho de um pastor evangélico. Em 1963, após cursar a faculdade mantida por sua denominação, entrou na pós-graduação na Universidade de Chicago. Pela primeira vez na vida disse que conviveu com um grupo tão grande de pessoas que não eram evangélicas.
Depois de algum tempo, decidiu fazer disso o tema de suas pesquisas para o trabalho de conclusão. Em 1969, logo após ser contratado pela USC, Bengtson começou um estudo com 350 famílias, que acompanhou regularmente até 2008. Em alguns casos, entrevistou quatro gerações. Ao todo, seus entrevistados nasceram entre os anos de 1878 e 1989.
Este longo projeto do professor Bengtson rendeu mais de 200 artigos, muitos focados em mudanças na vida após o envelhecimento e no conflito intergeracional. Ele se tornou um especialista conceituado sobre esses temas. Somente agora ele disse estar pronto para publicar suas conclusões sobre a transmissão da religião, a questão que o motivou desde o início.
Suas conclusões estão no livro “Families and Faith: How Religion Is Passed Down Across Generations” [Famílias e fé: Como a religião é transmitida através das gerações]. Escrito junto com outros dois colegas, o professor Bengtson argumenta que as famílias fazem um trabalho muito bom de passar a fé religiosa aos seus filhos. Mais interessante, apresenta suas conclusões sobre por que algumas pessoas mantêm a fé enquanto outras a abandonam na vida adulta.
Entre suas conclusões Bengtson aponta para um padrão. “A manutenção das convicções religiosas dos pais pelos filhos não diminuiu muito em 35 anos”. Os índices de “lealdade” a uma denominação são baixos. Contudo, as gerações mais jovens são propensas a manter crenças fundamentais, como o literalismo bíblico, a importância da frequência à igreja, e, em alguns casos, o ateísmo paterno.
Os pais não estão apenas tentando transmitir aos filhos uma lista de crenças, explica. “A motivação é querer que seus filhos alcancem a paz, a alegria, a esperança e a inspiração que um dia eles próprios encontraram”.
Quanto ao porquê de algumas crianças seguirem os pais, espiritualmente falando, a pesquisa de Bengtson confirma, agora, com base científica algumas ideias amplamente conhecidas. Por exemplo, os pais são o modelo de religiosidade: se você falar sobre igreja, mas nunca for, as crianças percebem a hipocrisia. Os casamentos “mistos” não ajudam. Se você não casar com alguém da mesma fé, muito dificilmente seus filhos irão partilhar a sua religião.
A principal conclusão do professor é que os laços familiares são determinantes. A “ligação emocional”, está diretamente relacionada com “a transmissão de ideias religiosas”, escreve. Segundo suas análises, há um aspecto “realmente interessante”.
“A transmissão religiosa, quando há um vínculo forte com o pai, é mais importante que a relação com a mãe”, decreta. Entretanto, há exceções. A transmissão do judaísmo, por exemplo, depende mais da relação com a mãe do que com o próprio pai.
De forma geral, no entanto, “um pai que afirme ter fé, mesmo sendo um dos pilares da igreja, se não der provas dessa fé em casa, quase certamente não verá seus filhos seguindo essa fé”. O professor Bengtson também descobriu que os avós têm uma forte influência sobre o desenvolvimento religioso das crianças, e que eles podem suprir as lacunas deixadas pelos pais.
Com informações NY Times.
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